A sexta-feira foi realmente demais! Depois tão esperado
último dia de trabalho, aquela sensação de liberdade gritava em nossos peitos.
Então o último 154 (ônibus que pegávamos diariamente para ir e voltar do
trabalho), cheio, mas nem tanto. Mas quer
saber nada de ir direto para casa, salário recebido, a paradinha na maior loja
de departamento do Sri Lanka “House of Fashion” não pode ser evitada, e em 5
minutos eu achei o vestido para o que seria a última festa, com um bonito
decote com renda local, por menos de R$15,00 = sucesso!
Depois de passar mais um pouquinho de raiva com adivinha quem?! Um motorista de
“Tuk tuk”, chegamos a festa de despedida da Ruta (a preguiça de organizar algo
era maior e como fomos tds convidados para esta nada melhor que juntar o útil
ao agradável), no “Colombo City Hostel”, lugar super simpático, ao se passar do
portão, dava para esquecer que estávamos no Sri Lanka. Tenho que confessar que
a animação aliada ao sprite com rum e perigosíssimos shots de vodka (que tipo
de pessoa propõe shot com smirnof? Me respeita!), resultou em muitas fotos, mas
pouquíssimas divulgáveis!
Mas se você acha que ficamos ali, se enganou, nos dividimos
em tuk tuks e fomos para “Sopranos”, mas o tuk tuk que era para 3 passageiros, estava com uma inusitada passageira francesa
extra no banco do motorista, enquanto atras estávamos, eu, meu único
companheiro brasileiro no Sri Lanka e meu querido amigo holandês que adora
salsa, falar espanhol, e quase tudo que diz respeito a América Latina, ambos
super dotados da capacidade de me fazer rir. O famoso bar com Karaokê em
Colombo, diversão garantida, mesmo alguns insistindo em cantar músicas
depressivas, os “clássicos” como “Back Street Boys” salvavam! Ao sair, o cheiro
da barraquinha de hamburguer ao lado foi mais forte, enquanto nos deliciávamos
com o quase não apimentado quitute, outros descobriram que a boate ao lado
estava vazia, então, fomos parar na minha favorita R&B! O dia já estava
amanhecendo quando conseguimos chegar em casa, sem conseguir elaborar planos
concretos para o final de semana, me restou tentar dormir!
Sábado de ressaca moral que nada, mais uma noite de balada,
cerveja e fritas no clube, R&B não é a mesma coisa no sábado, ao invés do
glamouroso DJ habitual, uma banda local se apresentava, e definitivamente não
estávamos nessa “vibe”, então fomos para Silk (a mesma que havíamos tentado sem
sucesso na noite anterior), mas dessa vez estava ótima. Ah, já comentei que
estávamos super VIPs?! Isso porque nosso querido amigo fotógrafo tem figurinha conhecida
em toda Colombo!
Domingo, acordei com o convite nada dispensável, vamos a
praia de Monte Lavínia e almoçamos por lá? Topei na hora, afinal lá fica um dos
meus restaurantes preferidos em todo Sri Lanka (pelo menos a parte que eu
conheci), Buba, onde a única preocupação é qual o molho escolher para a massa
de frutos do mar! Quase desistimos, quando começou a chover, mas aquele dia não
podia ser desperdiçado vendo tv, esperamos parar e pulamos no ônibus que
raramente se dá ao trabalho de parar completamente. Com direito a passar pela
feira e tomar água de coco no caminho, com certeza a praia era a melhor opção
do dia, entretanto, quem me conhece, sabe que sou daquelas pessoas que não
entra na água a menos que muito quente com previsão de continuar assim, então,
fiquei no segundo andar do restaurante vendo as ondas, que mostravam uma
correnteza mais forte do que eu estava disposta a me aventurar.
O domingo a noite, teria sido perfeito se aquele sentimento
de “acabou” não estive tão presente! Depois de mudar de plano algumas vezes,
finalmente conheci o apartamento de alguns de nossos amigos, no bairro ao lado
do que eu morava, e fomos juntos para a minha última noite em Colombo (tenho a
impressão que definitivamente a última, uma vez que não pretendo voltar nesta
vida ao Sri Lanka). Vocês não vão acreditar, a minha última noite, foi a
primeira e única em que eu consegui assistir uma partida de futebol desde que
saí do Brasil, dia 20 de março! Ai, como eu senti falta, de acompanhar os
lances, de realmente acompanhar as jogas, e achei bem engraçado, as pessoas
admiradas com minha concentração, me fazendo perguntas sobre regras e eu me
saindo bem nas respostas.
Depois de ver a minha segunda nação (afinal, quando se tem
cidadania italiana, o mínimo é torcer para Itália quando o Brasil não está em
campo) ganhar o jogo e conquistar o terceiro lugar na Copa das Confederações,
restou me despedir. Uma das despedidas mais difíceis da minha vida, porque é
realmente complicado quando você tem a sensação que talvez nunca mais vai ver
muitas daquelas pessoas na sua vida, quando você sabe quanta saudade vai sentir
daquele abraço, seus olhos se enchem de água e sua voz fica atravessada. Então,
é hora de respirar fundo e lembrar que está indo para o lugar que mais ama
nessa vida, sua casa!
Depois de um dia de preguiça, é hora de se encaminhar para o
aeroporto, onde passo raiva mais uma vez com a incompetência do povo de um país
que precisa muito crescer, mas tudo é relevado já dentro do avião quando vejo
que a comida da Turkish Airlines, que ao contrário da Sri Lanka Airlines, cujos
serviços desfrutei na minha ida às Ilhas Maldivas, é gostosa e saudável, já me
sinto mais perto de casa!
Após a tentativa frustada de tentar trocar o trecho Istambul
x São Paulo da classe econômica para executiva, diante dos valores
exorbitantes, que me renderam apenas, dois carimbos (de entrada e saída) da
Turquia e menos horas de espera entendiante no aeroporto, mais uma surpresa
estava a me esperar, a pessoa ao meu lado pelas próximas 11:30h é um judeu que
parece ter vergonha sequer de me olhar, e não se dirige ao menos uma palavra
neste período. Imagina que além de estar entre a janela que não abre e um
ser esquisito suficiente para estar acordado e dispensar todas as refeições do
avião sem nem perguntar se havia algo que ele pudesse comer – sorte dele a
aeromoça desconfiou e lhe ofereceu algo específico para judeus, algumas das TVs
da aeronave simplesmente pararam de funcionar, e é claro, inclusive da área
onde eu me encontrava.Senti falta da simpática e falante paulista que me deu
dicas de viagem pela Ásia na ida. Nota mental: sempre solicitar assento no
corredor em voos longos!
A turbulência que após a viagem para a Tailândia (nesse
trecho ela é considerada normal, apesar de alguns aviões já terem caído por
ali), quase não me incomoda, olhar e ver que estávamos há minutos passando
dentro das nuvens sem ver o céu também não. A verdade é que achei lindo os
cristais de neve se formando na janela, e minutos depois, o tapete de nuvens
que me fizeram lembrar de quando era criança e ouvia dizer que quando chovia
era porque os anjos estavam lavando o céu, após as festas! Tudo era lindo
depois de descobri que estávamos sobrevoando o Atlântico, o oceano que abriga
as praias que amo mesmo antes de começar a falar. Ao ouvir o comandante
anunciar o pouso, sinto um sorriso invadir minha face, já não estamos mais em
terras alheias, e sim, o meu amado, mesmo que conturbado, BRASIL!